terça-feira, 15 de outubro de 2013

A importância de um mestre




Hoje em dia o Yoga se transformou em um negócio bastante lucrativo. Ao mesmo tempo em que virou um negócio, se perdeu em sua essência. No Brasil se formos à uma livraria, encontraremos os livros de Yoga nas prateleira de esoterismo e/ou, pior ainda, na seção de auto-ajuda.
Na era das redes sociais, não é difícil de se encontrar milhares de frases de efeito relacionadas a mestres daqui e dali. Mas sera que estas frases são, de fato, destes mestres? E mais ainda, sera que estes mestres estão realmente ligados à Tradição védica?
Há um surto de organizações mundias de Yoga e bem-estar que vem crescendo mundialmente. E mesmo direto da India (claro, pois assim têm mais crédito e respaldo). Imitando modelos empresariais de pirâmide, os quais prendem seus adeptos aos seus cursos e produtos, gerando lucros sem fim.
Portanto, para chamar um mestre de mestre, é só ver o seu perfil na rede social e dali, segui-lo? Ouvir Cd's? Ler livros? Sair repetindo as frases feitas por eles? Ou será preciso estar na sua presença? Conhecê-lo de fato? Saber ao mesmo tempo que ele te conhece para que possa guiá-lo?
Um mestre, para ser teu, tem antes de tudo que te conhecer. Para saber trabalhar contigo naquilo que mais você precisa. Te guiar em práticas adequadas.
Um mestre, não precisa fazer discípulos. Um mestre é um renunciante, portanto, não precisa de lucros ou fama.
Existe um mantra bastante interessante na Taittirīya Upaniṣad, que diz: “Que eu tenha fama”(o mestre). Mas esta fama é no sentido de que os seus próprios alunos sejam reconhecidos pelo mérito de suas capacidades para ensinar.
Porque, na verdade, o que um mestre ensina, não é mérito dele. É merito do seu mestre. Que por sua vez teve seu mestre, e assim em diante.
Um professor que está dentro da Tradição védica, não está emitindo a sua opinião. Está apenas repetindo aquilo que já vem de muito tempo. Dos Vedas.
Nesta tradição, o ensinamento vem do professor em forma de diálogo porque algo deve ser entendido. Algo deve ser seguido, não apenas “engolido”. Em uma crença, você engole. É algo que tem que ser aceito por completo, sem questionamento. Qualquer questionamento que se estabeleça é apenas para estabelecer ainda mais a crença. O que na verdade não é nenhum questionamento. Por isso há tantas tentativas para tentar se provar que alguém existiu em determinado momento da história. Se alguém existiu ou não, não é o que importa. O que importa é o ensinamento.
A essência de todo de vários tipos de conhecimento por muitas vezes encontra-se extremamente criptografada e torna-se difícil de ser compreendida. Assim é no caso dos textos antigos de Yoga, como a Bhagavad Gītā ou Yoga Sūtras. A pessoa deve ter completo conhecimento sobre os Śāstras para poder apreciar em sua plenitude tudo aquilo que estes textos estão dizendo.
Por exemplo, mesmo Arjuna, na Gītā, tendo certo “background”, não foi fácil para ele compreender. Ele teve que questionar. Se não foi fácil para Arjuna, certamente não é para nós, que vivemos em um tempo no qual não dispomos de tanto tempo para meditações e reflexões.
Para pessoas como nós, estes textos tomarão muito tempo para serem absorvidos. Este conhecimento se apresenta na forma de palavras. Porém, o objeto de estudo é algo único, portanto, nem sempre este conhecimento se torna acessível através das palavras. Ao mesmo tempo, as palavras são empregadas para que o Ser seja imediatamente revelado. Portanto, todos nós precisamos não apenas do ensino de Vedānta como um pramāṇa, mas também de um professor, um guru.
A necessidade de um professor
Existem duas sílabas na palavra guru. “Gu” significa escuridão ou ignorância, e “Ru” significa aquele que a remove. Portanto, um guru é aquele que remove a escuridão da ignorância ao ensinar o Śāstras. O ensinamento é o Śāstra e o professor também é o Śāstra.
O que isto significa? O ensinamento se torna vivo quando ele é dado na forma correta. Do contrário, tudo o que se tem são palavras sem significado. Mesmo que o ensinamento seja um pramāṇa, há uma metodologia empregada para que as palavras ganhem significado. Um professor, ou um guru, é aquele capaz de revelar o significado das palavras. As palavras já estão lá e o significado também está lá. Elas apenas precisam ser reveladas para a sua compreensão.
Quem é o primeiro Guru nesta linhagem que fazemos parte?
Podemos responder esta questão com outra: quem é o primeiro pai? Quando você me disser quem é o primeiro pai, eu lhe direi quem é o primeiro guru. Em ambos os casos é a mesma coisa. Portanto, se você diz que o Criador é o primeiro pai, ele também deve ter um pai. O que significa que ele não pode ser o Criador. Portanto, não há pai para aquele que chamamos de Criador.
Alguém disse que o primeiro pai era um macaco. O que é uma conclusão presumida. No entanto, você se dará conta que este macaco tinha um pai, que tinha um pai, que tinha um pai, até que você finalmente desista. Porque você entra numa regressão infinita, é melhor desistir. Ou você pode concluir que o primeiro pai era aquele que não era filho. Ele era apenas pai, o qual chamamos de Criador.
Se assumirmos que o primeiro pai é o Criador, então, o primeiro guru não será diferente deste Criador. E, a partir deste Criador, há uma linhagem professor-estudante chamada de guru-śiṣya-paramparā. O Paramparā é invocado no seguinte verso:
Sadaśivasamarambham śankaracaryamadhyamam|asmadacaryaparyantam vande guruparamparam||
Eu saúdo a linhagem de mestres que começa com Śiva, tem Śankara no meio e vai até meu mestre.
Portanto, quando você saúda o professor, suas saudações vão até o Criador, onde a linhagem começou. Para apontar o meio desta linhagem, Śankaracārya é mencionado, o que significa que ele está ali, em algum ponto, unindo o Criador ao presente professor. Se usamos a palavra meio, isto também significa que há um fim. Se o início é representado por Śiva, significando o Criador, aquele que é plenitude, conhecimento. E o meio é Śankaracārya. Quem está no fim? Meu professor.
Estando aqui hoje, verifico que não houve quebra na linhagem entre o primeiro pai e eu. Similarmente, se o conhecimento está chegando até a mim agora, eu sei que ele se manteve vivo através da tradição professor-aluno.
Como escolher um professor
Escolher um professor também pode ser um problema. Muitas coisas são ditas por muitos. Todos se dizem donos da verdade.
Se alguém lhe diz que você tem um problema, então esta pessoa pode manipulá-la. No entanto, se alguma pessoa lhe diz que este problema que você parece ter é um engano, então esta pessoa é objetiva. E, se o problema for real, ninguém será capaz de resolvê-lo.
Se a situação é real, como pode ser transformada? Se eu realmente sou uma pessoa limitada e inadequada, não haverá forma de resolver este problema. Com ou sem ajuda, o limitado é sempre limitado. Mas, aqui, não há necessidade de se dizer: “se sou uma fração do Todo, sempre serei esta fração.” Se eu sou o Todo, a conclusão de que sou uma fração é um engano, e a maneira de sair desta visão é me enxergar de maneira clara. Então, aquele que diz que o problema é um engano e que este engano é universal, não apenas um engano pessoal, este, pode ser um guru.
Para que eu me reconheça como o Todo e que, portanto, me aceite, é dito: “Que você encontre um professor” (Mundaka Upaniṣad – 1.2.12). Que tipo de professor? Os Vedas dizem que o professor é aquele que domina o que ensina e que está enraízado neste conhecimento. Mas como saber se este professor domina o conhecimento ou não? Se eu quiser estudar matemática avançada, eu preciso apenas procurar por alguém que tenha estudado matemática avançada. Eu posso presumir que esta pessoa conhece o assunto e, então, decidir estudar com esta pessoa à menos que ela prove o contrário.
No entanto, quando procuro um guru, há um problema, pois sendo o conhecimento sútil ou espiritual, como saber se esta pessoa se expôs ao conhecimento e à disciplina da tradição? A menos que você já tenha um conhecimento sobre si mesmo.
Deveríamos ter um mínimo de informação para sabermos se aquele professor tem conhecimento ou apenas finge ter. A pessoa também pode estar iludida, não fingindo saber, mas pensando saber. Tais pessoas não sabem que não sabem.

Um professor, na verdade, é uma pessoa comum, como você. Com um pouco mais de bagagem, de experiência, para pode transmitir o ensinamento.

Uma boa forma de se verificar se este ensinamento é bem transmitindo e faz sentido, é quando ele não contradiz a lógica da mente. É quando aquilo que é ensinado pode ser, realmente, aplicado na vida cotidiana.

Yoga não é um assunto sobrenatural e jamais deve ser ensinado com frases complexas ou de efeito. Quando nos deparamos com coisas que parecem lindas poeticamente, mas não fazem sentido algum. Não é um bom sinal.

Um bom professor, sempre ensina de forma simples, clara e que toca o coração dos seus alunos. Ajudando-os a enxergar aquilo que deve ser visto.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Vidura e uma aula sobre o Dharma



Quando Sanjaya retornou de Upaplavya foi diretamente ao encontro do rei Dhritarashtra e se anunciou. O rei o saudou com bastante entusiasmo. Sanjaya disse: “Yudhishthira se prostra diante de ti e pergunta pelo seu bem e dos seus filhos e amigos. Seus irmãos e Kṛṣṇa estão muito bem. Eu me sentia muito bem naquela atmosfera de paz e retidão que lá encontrei. Era como respirar o ar puro das montanhas. Eu não gosto de seu comportamento e tampouco de suas palavras. Eu tive que realizar uma tarefa extremamente desagradável por sua causa. Você não é correto, assim como seus filhos, também não são. E mesmo assim você deseja desfrutar dos prazeres desta terra. Surpreende-me o seu otimismo. Eu entreguei sua mensagem a Yudhishthira, porém sua resposta será dada somente amanhã na corte. Eu desejo descansar agora. Estou física e mentalmente cansado. Por favor, permita-me ir.”
Sanjaya se retira. A mente de Dhritarashtra permanece terrivelmente atormentada pelas palavras ditas. A resposta de Yudhishthira não havia sido revelada. O rei ardia como se consumido por uma febre. Ele tentava dormir, em vão. Em desespero ele procura por Vidura (seu irmão). Vidura o questiona o porquê de sua visita. A condição do rei era de dar pena. Ele disse: “Vidura, Sanjaya retornou de Upaplavya. Ele usou palavras ásperas comigo e depois se retirou. Ele não quis nem me dar uma pequena amostra das palavras de Yudhishthira. Eu tentei dormir e não consegui. Você é meu único amigo. Você sempre me amou apesar de todos os meus erros. Você precisa me consolar e me fazer dormir. Eu não consigo dormir!”
Vidura disse: “Meu senhor, cinco tipos de pessoas não conseguem dormir. Um homem que deseja a mulher do próximo, não consegue dormir. Um ladrão não consegue dormir. Um homem que perdeu todos os seus bens ou que pensa que os perderá, não consegue dormir. Um homem mal sucedido não consegue dormir. Um homem fraco oprimido por outro mais forte não consegue dormir. Espero que nenhuma destas descrições sirva a você. Certamente a avareza e a ambição não são qualidades encontradas em ti!”
Dhritarashtra já estava acostumado com o sarcasmo nas palavras de Vidura. Elevado pelas palavras de seu irmão, ele diz: “Me diga, por favor, como posso dormir.”
Vidura sorri para ele numa mistura de piedade e desdenho. Ele diz: “Você já não consegue dormir há alguns anos, meu senhor! Desde o momento em que os Pandavas, guiados pelos rṣis de Satsaringa, chegaram à Hastinapura. Mas a verdadeira razão pela sua incapacidade de dormir remonta ainda há anos atrás. Eu me lembro do dia em que seu filho, Duryodhana, nasceu. Você me chamou e me perguntou: ouvi que meu irmão, Pandu, já tem um filho nascido antes do meu. Você acha que teremos problemas na herança do trono? Desde aquele dia, o ciúme se instalou em seu coração e lhe arrancou o sono.
Pelos últimos tantos anos, tenho tentado, em vão, lhe mostrar um pouco de retidão. Você é uma pessoa de má conduta. Você é o responsável pelo sofrimento dos Pandavas e a iminente destruição dos Kauravas. Como é que uma pessoa como você dormiria? Yudhishthira sempre lhe respeitou como um pai. Aliás, ele o considera como pai. Mas você sempre agiu como um ladrão em relação a ele. Este seu sofrimento, portanto, não me surpreende. E você me pergunta como fazer para dormir? Neste exato momento, se você decidisse devolver o reino a Yudhishthira, dormiria como uma inocente criança. Por favor, ouça-me. Você não é sábio. É um tolo!”
Dhritarashtra disse: “Diga-me, querido irmão, quais são as qualidades encontradas em um sábio e as qualidades encontradas em um tolo?”
Vidura disse: “Eu lhe direi como deve ser um homem sábio. Um homem deve aspirar por grandes ideais na vida. As bases deste homem devem ser o autoconhecimento, empenho, tolerância e firmeza nas virtudes. Tal homem é sábio. Nem a raiva, ou a alegria, orgulho ou falsa modéstia, vaidade, podem distraí-lo em relação a seus propósitos. Suas ações são sempre realizadas com o intuito de servirem a todos. O desejo não guia suas ações. A honestidade o alegra e ele ama aquilo que é bom. Ele não é afetado por honras ou deslizes. Como um rio no curso do rio Ganges. Ele é calmo, tranqüilo e livre de agitações.
Pelo outro lado, as qualidades de um tolo também são fáceis de serem enumeradas. As escrituras são livros ininteligíveis para eles. Ele é vazio, orgulhoso, e quando deseja alguma coisa, nunca hesitará em empregar meios inapropriados. Ele tem uma queda pelo desejo daquilo ao qual não tem o direito. Os poderosos o fazem invejoso. Deixe-me dar um bom exemplo de má conduta. Um homem age de má fé e vários outros terão que colher o resultado desta ação. Mas no fim, esta má conduta estará apenas atribuída àquele homem, enquanto aqueles que colheram os frutos sairão ilesos.
Um rei sábio discrimina o segundo com a ajuda do primeiro. Ele precisa controlar o terceiro por intermédio dos meios do quarto. Ele deve conquistar o quinto, conhecer o sexto, se abster do sétimo e ser feliz. Pelo primeiro, me refiro ao intelecto; pelo segundo, o certo e o errado. Pelo terceiro, amigos, estranhos e inimigos. Pelo quarto, o presente, a conciliação, separação e severidade. Pelo quinto, os sentidos. Pelo sexto, tratados, guerras e etc. Pelo sétimo, mulheres, jogos, caça, aspereza nas palavras, bebida, severidade nas punições e desperdício de bens. Isto significa que ele deve saber discriminar entre certo e errado pelo uso do intelecto. Amigo, inimigo ou estranho pode ser conquistado a partir do quarto. Os sentidos devem estar sob seu comando, e um rei deve estar acostumado a fazer tratados que podem ser essenciais. O sétimo deve ser naturalmente evitado se um rei aspira ser um sábio.
O veneno mata apenas um homem, assim como uma arma. Mas conselhos traiçoeiros destroem um reino inteiro, seus reis e súditos. O maior dos valores é a retidão. A paz suprema é o perdão. O contentamento supremo é conhecimento. A suprema felicidade é a benevolência. Um rei pode se tornar grande apenas fazendo duas coisas: refreando-se da aspereza em suas palavras e abandonando aqueles que são traiçoeiros. Três crimes são considerados terríveis: o roubo de propriedade alheia, o desrespeito à esposa de outros e a quebra de amizades. Três coisas destroem uma pessoa: luxúria, raiva e desejo. Três são essenciais: um discípulo, um que busque sua proteção e outro que viva onde você vive. Estes devem ser protegidos. Um rei, mesmo poderoso, nunca deve se misturar com homens destas quatro naturezas: de pouco senso, homens que postergam suas tarefas, indolentes e desinteressados. Cinco objetos devem ser venerados: o pai, a mãe, o fogo, o mestre e ātmā. Seis erros devem ser evitados por aquele rei que deseja ser grande: sono, inércia, medo, raiva, indolência e postergação. Estes seis não podem ser esquecidos: verdade, caridade, diligência, benevolência, perdão e paciência. O rei deve renunciar aos seis erros. Oito qualidades glorificam um rei: sabedoria, o nascimento em uma casta superior, continência, a capacidade de aprendizado, proeza, moderação em seus discursos, presentes oferecidos com discriminação, e gratidão. Este corpo humano é uma casa com nove portas, três pilares e cinco testemunhas. É onde ātmā reside. O rei que conhece isso, é sábio. Estes dez não conhecem a virtude: o intoxicado, o distraído, o irracional, o cansado, o raivoso, o faminto, o descastado, o desejoso, o amedrontado e aquele tomado pela luxúria.
Um homem que não sofre quando uma calamidade o acomete. Que realiza o seu melhor durante todo o tempo com seus sentidos sob controle, que conquista a miséria com paciência, é o maior de todos os homens. Aquele que não tem malícia em relação aos outros, mas é gentil. Que não fala de forma arrogante, que perdoa, é venerado em todos os lugares.
Um rei que busca a prosperidade deve tomar apenas aquilo que pode ser tomado e que será benéfico. Assim como as abelhas coletam o pólen sem destruir as flores, um rei deve tributar o povo sem prejudicá-lo. Ele deve colher as flores, mas não arrancar as raízes.
Um homem sábio deve aprender o bom comportamento, boas palavras e bons atos de toda parte, assim como alguém que recolhe os grãos dos milhos deixados no campo pelos colhedores. A virtude é preservada pela verdade; o aprendizado pela aplicação; a beleza pela limpeza do corpo; alta linhagem pelo bom caráter. Mera linhagem, no caso daqueles cujo comportamento não é bom, não merecendo respeito. Um homem ou rei que inveja a riqueza, beleza, poder, linhagem, felicidade, sorte e honra de outros, sofre de uma doença incurável. Bom comportamento é essencial ao homem. A intoxicação pela riqueza deve ser mais censurada do que a bebida, pois um homem intoxicado pela riqueza pode perder seu senso até que finalmente ele decline.
Assim como a luz da lua em seu décimo quarto dia, as calamidades crescem para aquele que é escravo de seus sentidos. O rei que deseja controlar seus conselheiros antes de controlar a si mesmo, ou o rei que deseja subjugar seus adversários antes de controlar seus próprios conselheiros, luta uma batalha perdida, perdendo sua força. Um rei, antes de tudo, precisa subjugar a si mesmo, como se fosse seu próprio inimigo. Então, ele nunca falhará em subjugar seus conselheiros e, conseqüentemente, seus inimigos. Grande prosperidade aguarda àquele que subjugou seus sentidos ou controlou seu ego, ou aquele que é capaz de punir todos aqueles que o ofendem, ou que age com discernimento, ou que é abençoado pela paciência.
O corpo é a carruagem: o intelecto é o cocheiro e os sentidos são suas rédeas. Conduzido por estas excelentes rédeas quando é bem treinado, o sábio atravessa este campo, que é a sua própria vida em paz. Os cavalos, no entanto, sendo impossíveis de serem controlados, podem levar um condutor distraído à sua própria destruição. Muitos reis de mente perversa se arruínam pelos seus desejos de domar os sentidos.
Controlar a fala é tido como a mais difícil das disciplinas. Não é fácil manter uma longa conversa com palavras elevadas e significativas que são aprazíveis para quem as escuta. Um bom discurso é capaz de conquistar muitas coisas boas. Da mesma forma, palavras ruins causam o mal. Uma floresta cortada por flechas ou machados pode crescer novamente, porém, um coração ferido por palavras perversas, nunca se recupera. Armas como flechas e dardos podem ser facilmente extraídas do corpo, mas uma palavra cravada funda no coração é impossível de ser retirada. Palavras podem ser como terríveis flechas atiradas pela boca. Ferido por elas, um homem sofre dia e noite. Um homem sábio não deve lançar tais flechas já que elas atingem o âmago dos outros.
Aquele, que é derrotado pelos deuses, perde o controle sobre seus sentidos e em função disso ele se dedica a tarefas sem valor. Quando o intelecto declina e a destruição se aproxima, então o erro, parecendo o acerto, atinge com firmeza o coração. O intelecto nublado causa a derrota.
Ablução em todos os lugares sagrados e gentileza com todas as criaturas: estes dois são iguais. Talvez a gentileza a todas as formas de vida seja ainda o mais elevado. Enquanto as boas ações de um homem forem difundidas neste mundo, ele será glorificado em outros.
Os deuses não protegem homens armados de bastões. Porém os abençoa com inteligência. Não há dúvidas de que os seus desejos se realizam proporcionalmente à forma em que ele se mantém atento à boa conduta e à moral. Os Vedas não resgatam um homem desonesto e de má conduta. O ouro é testado no fogo, uma pessoa bem nascida pela maneira em que rege sua vida, um homem honesto pela sua conduta, e um homem corajoso é testado em uma situação de pânico; aquele que tem autocontrole em tempos de pobreza, e amigos e inimigos são testados em tempos de calamidade e perigo. Empenho, estudo, ascese, presentear, a verdade, o perdão, misericórdia e contentamento constituem os oito diferentes caminhos da virtude. Os quatro primeiros podem ser praticados por motivos de orgulho, porém os outros quatro só existem naqueles que são verdadeiramente grandes.
Realize durante o dia aquilo que poderá mantê-lo feliz à noite. Realize durante os oito meses do ano aquilo que poderá mantê-lo feliz durante os quatro meses da estação chuvosa. Realize na juventude aquilo que lhe fará envelhecer feliz; realize ao longo da sua vida aqui tudo aquilo que possibilitará a sua felicidade mesmo após a morte.
Desfazer todos os nós do coração ajuda a manter a tranqüilidade, o comando sobre todos os desejos, a pura devoção. Uma pessoa deve aprender a se relacionar com o agradável e o desagradável bem como se relaciona consigo mesmo. Uma pessoa não deve responder às agressões de outras. Difícil dizer, quando uma pessoa naturalmente silenciosa sofre estas agressões, é o agressor que é consumido pela agressão. E as virtudes (se existem) deste agressor se tornarão as virtudes do agredido.
Nunca brigue com amigos. Evite a companhia daqueles que são vis e baixos. Nunca tenha uma conduta arrogante. Evite palavras carregadas de raiva. As palavras ásperas queimam os órgãos vitais, ossos e até mesmo o coração. Então, aquele que é virtuoso deve evitar palavras ásperas e raivosas. É dito que o silêncio é melhor que as palavras. Se você precisa falar, diga a verdade. Se a verdade deve ser dita, é melhor dizer aquilo que é agradável. Se aquilo que é agradável deve ser dito, é melhor dizer aquilo que é consistente e moral.
A ascese, a continência, o conhecimento, empenho, casamentos sinceros e puros, além de doações de alimentos são marcas de uma grande família.
Os homens morrem e renascem. Repetidamente eles crescem e depois perdem a vitalidade. Às vezes questionam e outras são questionados. Várias vezes eles lamentam-se e por eles são lamentados. Alegria e tristeza, abundância e miséria, ganho e perda, vida e morte são partilhados por todos. Um homem com autocontrole não sofre e nem se alegra por estes pares de opostos.
A raiva é como uma bebida amarga, ácida e quente: e suas conseqüências são dolorosas. É como uma dor de cabeça que surge sem nenhuma condição física que aponte para isso. Os sábios podem digeri-la, mas não aqueles que desejam sabedoria. Excesso de orgulho, gula, raiva, excesso no discurso, o desejo por prazeres e doenças intestinais, são estas as seis espadas afiadas que podem ceifar a vida. São estas que matam e não a morte.
É dito que os reis possuem cinco tipos diferentes de força. Destas, a força de seus braços é tida como a mais inferior. A aquisição de bons conselheiros é tida como a segunda mais forte. A aquisição de riqueza é a terceira. A força do nascimento, conquistada naturalmente através de seus antepassados é a quarta. Porém, aquela que ultrapassa todas estas e a mais elevada entre as forças, é a força do intelecto.
Aquele que nunca cede espaço à raiva. Aquele que é capaz de ver um pedaço de barro, pedra ou ouro da mesma forma e que se mantém imparcial ao agradável ou desagradável, como alguém completamente retirado deste mundo, é um verdadeiro yogi. Inteligência, tranqüilidade da mente, continência, pureza, liberdade de palavras ásperas, e um não desejo por fazer aquilo que não será prazeroso aos amigos – estas sete qualidades são o combustível para a chama da prosperidade. A virtude não tem fim: prazer e dor são transitórios. Perdoar aqueles que transgridem, reconhecer em si mesmo aquilo que é eterno e cultivar o contentamento, já que o contentamento é a maior de todas as conquistas.
Reis poderosos e ilustres governaram esta terra tão cheia de riquezas, glórias e alegrias. Todos eles foram vítimas do “Destruidor Universal” (a morte). Eles partiram deixando para trás seus imensos reinos e prazeres. O filho, criado com tanto zelo, quando morto, é levado pelos homens ao crematório. Com o cabelo despenteado e cercado pelo choro, o corpo é colocado na pira como se fosse mais um pedaço de madeira. Alguns podem aproveitar da riqueza de um homem morto enquanto os pássaros e o fogo consomem os elementos deste corpo. Somente duas coisas partem junto com ele: os méritos e os erros. Deixando o corpo, parentes, amigos e filhos retornam aos lares como pássaros que abandonam a árvore sem flores e frutos. O homem colocado na pira crematória é seguido apenas por suas ações. Portanto, gradualmente, os homens devem conquistar o mérito e a virtude.
É dito que o âmago de uma pessoa e sua própria vida são como um rio. No rio da vida, as águas são os cinco sentidos. Os crocodilos são o desejo e a raiva. Praticando o autocontrole, como quem controla um barco, um homem atravessa os redemoinhos que representam os repetidos nascimentos. No rio do âmago, o mérito religioso é como um banho sagrado; a verdade, suas águas; o autocontrole, suas margens; a gentileza suas ondas. Aquele que é virtuoso se purifica com um banho neste rio, pois seu âmago é sagrado e a ausência do desejo seu supremo mérito.”
Dhritarashtra disse: “Vidura, diga-me mais sobre atma. Diga-me como, com este corpo que possuo, posso encontrar o Único e eterno? Diga-me o que é a morte.”
Vidura disse: “Meu senhor! Eu nasci na casta dos Sudras, portanto, não me permito dizer mais do que já disse até agora. Aquele antigo e eterno rishi chamado Sanatsujata lhe falará sobre estes tópicos. Eu o invocarei.”
Vidura meditou no grande rishi. Percebendo que este fora invocado através da mente de Vidura, o grande rishi apareceu. Vidura disse: “Há uma dúvida na mente do rei que poderá ser esclarecida apenas por suas palavras. Por favor, fale com ele.” Dhritarashtra perguntou ao rishi sobre suas dúvidas em relação à morte e à “busca” por Brahman. Sanatsujata disse: “Eu lhe darei minha opinião. Os eruditos são da opinião de que a morte resulta da ignorância. Ignorância é a própria morte, portanto, o conhecimento, a ausência de ignorância, é imortalidade. A morte não devora criaturas como um tigre o faz; a sua forma é indescritível. Além desta questão da forma, há muitos que imaginam Yama como sendo a morte. Isto, no entanto, se deve à fraqueza da mente. A busca por Brahman ou autoconhecimento é em si mesmo a imortalidade. O deus imaginário, Yama, na forma de raiva, ignorância e desejo, surge entre os homens. Tomados pelo orgulho, homens caminham por vias não virtuosas. Nenhum entre eles terá sucesso na realização de sua própria natureza. Os seus entendimentos não são claros, guiados pelo apego, permanecem escravos de seus próprios corpos. São guiados por seus sentidos. Em função disso a ignorância recebe o nome de morte.
Estes homens desejosos pelos frutos de suas próprias ações deixam seus corpos em seu devido tempo. Portanto, não podem evitar a morte. Porque quando o mérito por suas ações se exaure, a morte e o renascimento são inevitáveis. Os seres encarnados por estarem identificados com os prazeres e sua inabilidade em reconhecer Brahman permanecem presos aos ciclos de renascimento.
A inclinação natural dos homens por objetos que são apenas transitórios é a causa pela qual os sentidos se perdem. O intelecto que é constantemente afetado pela busca destes, faz com que ele adore apenas os prazeres oriundos dos mesmos. O desejo pelo desfrutar atinge o homem. Luxúria e fúria vêm logo em seguida. Estes três conduzem um homem tolo à morte. No entanto, aqueles, que através do autocontrole conquistaram o intelecto, escapam da morte. A ignorância, assumindo a forma de Yama, não devora o homem que destruiu o desejo através da continência. O que a morte pode fazer a uma pessoa cujo intelecto está livre de confusão ou livre de desejos? Para esta pessoa a morte não a aterroriza. Portanto, se a existência do desejo, que é a ignorância, deve ser destruída, nenhum desejo, nem o mais suave deles, deve ser um objetivo.
O âmago de um homem, quando identificado com a fúria e o desejo, possuído pela ignorância, encontra-se com a morte. Sabendo que os desejos surgem no caminho, se um homem confia no conhecimento, não deve cultivar o medo da morte. Mesmo quando a morte atinge o corpo físico, esta morte é destruída através do conhecimento.”
Dhritarashtra disse: “Qual o objetivo da ascese? Mauna? Eu ouvi que há dois tipos de mauna: continência da fala e meditação. Qual é superior? Poderia uma pessoa atingir este estado de quietude a se tornar livre através de mauna? Como deve ser praticado?”
Sanatsujata disse: “O objetivo de mauna é reconhecer aquilo que está além do alcance das palavras e da mente. O verdadeiro mauna consiste não somente na continência da fala, mas na continência absoluta de todos os sentidos e da mente. O aspecto, forma e natureza de mauna devem ser necessariamente a dissolução daquilo que é objetivo e subjetivo (dualidade) e o foco em Brahman apenas. Quando este estado é “alcançado”, Brahman é “alcançado”. Brahman é representado pelo símbolo védico Om, que representa o denso, o sutil e o causal. Mauna é alcançado pela gradativa dissolução do denso no sutil, do sutil no causal e do causal em Brahman.
Há seis tipos de renúncia e todas são válidas. A primeira é jamais se entusiasmar com momentos de prosperidade. A segunda é abandonar os sacrifícios, preces e atos de piedade quando se objetiva apenas os méritos que surgirão deles. A terceira é o abandono do desejo, ou a renúncia ao mundo. A quarta é que não se deve sofrer ou permitir que alguém sofra quando o resultado da ação não for o desejado. Ou quando algo desagradável acontece, um homem não deverá sofrer. A quinta é não exigir que filhos, esposas e outros lhe sejam de grande estima. A sexta é doar-se (seva) à uma pessoa digna.
Brahman não é rapidamente “alcançado”. Após conter os sentidos e após os desejos terem sido dissolvidos no puro intelecto, o próximo passo é a abstenção dos pensamentos (no sentido de não se identificar com eles).
O conhecimento que conduz ao entendimento de Brahman é alcançado somente pela prática de Brahmacharya.
Brahmacharya significa a busca pela verdade. Mesmo presente na mente e inerente à ela, o conhecimento de Brahman é não manifestado. Pela ajuda do puro intelecto e de Brahmacharya é que ele se torna manifestado. Aqueles que desejam "alcançar" Brahman subjugam todos os desejos e imbuídos de virtude, têm êxito na dissociação de atma e jiva, assim como uma lâmina separa uma camada de terra. Tal homem com o corpo purificado é um sábio. Através de Brahmacharya ele se torna como uma criança, livre de apegos, e finalmente triunfa sobre a morte. Através de ações os homens só alcançam aquilo que é perecível. No entanto, aquele, abençoado pelo conhecimento alcança Brahman, que é eterno.”
Dhritarashtra disse: “Você diz, meu senhor, que um sábio percebe a existência de Brahman em seu âmago. Diga-me qual a verdadeira forma e cor do eterno Brahman.”
Sanatsujata disse: “Nem na terra, nem no céu, nem nas águas do oceano, há algo como isso. Nem nas estrelas, nem no raio, nem nas nuvens, há uma forma a ser vista. Não é visível na atmosfera, nem nos elementais da natureza, nem na lua e nem no sol. Nem no Rg, Yajur, Atharva ou Sama será encontrado. Incapaz de ser conceituado, e estando além dos limites do intelecto. Até mesmo a morte, no momento da dissolução (pralaya), é destruída nele. Incapaz de ser visto, é mais sutil do que a borda de uma lâmina e ao mesmo tempo mais denso que as montanhas. É a base que tudo sustenta. É imutável. É este universo visível. É vasto. É aprazível. Todos os seres surgiram dele e para ele retornarão. Livre de dualidade, se manifesta como o universo. Permeia tudo. Sábios dizem que é imutável, mas muda apenas através das limitadas palavras utilizadas para tentar descrevê-lo. Estes que reconhecem Este no qual todo o universo está estabelecido, de fato, são abençoados.”

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Para compreender o Prāṇāyāma




Introdução
Prāṇa é o termo que o yogi usa para se relacionar com a sua própria respiração e também com toda a energia que sustenta o universo. Prāṇa é a energia que permite que o corpo e a mente funcionem. Exercícios respiratórios são formas excelentes para a o desenvolvimento desta energia. Eles são o foco principal do Prāṇāyāma, que é o quarto estágio da prática, colocado por Patañjali nos Yoga Sūtras. Além de desenvolver a nossa energia, o Prāṇāyāma é uma importante ferramenta para relaxar o corpo durante o esforço durante a prática de āsanas e também para estabilizar a mente para as práticas meditativas.
A respiração não é apenas uma indicação de que estamos vivos, mas também uma forma de conexão com aquilo que é livre de formas e nomes (Brahman), que é apontado pelo elemento ar, e se sutiliza, posteriormente, no elemento espaço.
Não é a toa que quando queremos empreender um grande esforço, damos uma profunda respirada!
Para as práticas mais sutis, é necessário mais energia, maior concentração para estabilizar a mente, que pode ser feito através da respiração profunda e consciente.
O Prāṇa é um assunto bastante importante para várias práticas de Yoga que enfatizam a relação desta energia com os canais sutis do corpo (nādīs) e cakras que estão estabelecidas em nosso corpo sutil.
  
Muitas coisas são faladas sobre as práticas de prāṇāyāma hoje em dia. A idéia é dar o significado implicado à estas práticas segundo o Śāstra.

Falamos isso, pois assim como houve uma deturpação quanto à prática de āsanas, também houve em relação ao prāṇāyāma.

Os fins foram confundidos com os meios. Na prática de āsanas, nós já frisamos que, há um ganho na força, flexibilidade, equilíbrio da saúde em geral do corpo.

Mas isto não é o objetivo da prática de Yoga. Nós não podemos simplesmente retirar uma técnica de todo um contexto muito maior.

Estas são consequências da constante exposição à prática. E no prāṇāyāma também há resultados da mesma natureza. Há uma melhora na capacidade de respirar. Doenças respiratórias podem ser atenuadas e até mesmo desaparecer.

Mas para um Yogi, este não é o objetivo, é um ganho. Um ganho valioso, mas apenas um ganho. Portanto, não vamos confundir Yoga com prāṇāyāma.

Um Yogi deseja, a partir da técnica de prāṇāyāma, maior tranquilidade e clareza para a mente. Apesar dos seus efeitos bastante visíveis sobre o corpo, o prāṇāyāma é uma potente ferramenta usada para estabilizar a paisagem da mente.

Este processo de tranquilização e amadurecimento da mente, é chamado em sânscrito de antaḥkaraṇaśuddhi, que literalmente significa: purificação do instrumento interno, que é a mente.

Uma mente tranquila e madura é capaz de olhar para o mundo como ele é. É capaz de transcender os seus próprios gostos e aversões e agir conforme o Universo lhe proporciona as situações ao longo da vida.

Nos recentes manuais de Yoga, podemos encontrar dezenas de técnicas respiratórias. Cada uma especialmente feita para uma determinada época do ano, lugar, ocasião. Mas a bem da verdade, é aí que a confusão se instala. E ali, o praticante se vê perdido frente à tantas opções, e sem saber bem o por que de tudo isso.

A idéia, aqui, não é descartar estas técnicas, mas entender que todas elas são um meio para antaḥkaraṇaśuddhi e não para ficar minutos sem respirar.

Nosso mestre, Swāmi Dayānanda, por exemplo, ensina que um dos prāṇāyāmas mais interessantes para cultivarmos uma mente tranquila, é o Nādī śodhana prāṇāyāma. O exercício no qual alternamos narinas nas inspirações e expirações.
Ele nos conduzia neste exercício todas as manhãs antes da prática de meditação. E outra coisa interessante que ele ensinava, era que não era necessário mais do que dez ciclos para cada narina. Ou seja, verdadeiramente é uma preparação, e que o principal, vinha depois, a meditação, na qual a mente precisa estar um pouco mais estável.

Seguindo esta linha de pensamento do nosso mestre, duas escrituras muito importantes para aqueles que estudam o Yoga, também não discorrem demasiadamente sobre o assunto.
Nos Sūtras de Patañjali, por exemplo, está escrito:

“tasmin sati śvāsapraśvāsayorgativicchedaḥ prāṇāyāmaḥ” ||49||

O prāṇāyāma consiste na regulação do movimento da inspiração e da expiração.

Na Gītā temos outro exemplo bem parecido e muito interessante no que tange a confusão entre meios e fins:

“apāne juhvati prāṇaṁ prāṇe’pānaṁ tathāpare|
prāṇāpānagatī ruddhvā prāṇāyāmaparāyaṇāḥ” ||

Ainda outros, seguidores do controle da respiração, controlando a expiração e a inspiração, oferecem a expiração na inspiração e a inspiração na expiração.

Este trecho da Gītā é bastante interessante, pois nele, Kṛṣṇa está explicando o fato de que nenhuma ação é capaz de lhe dar o conhecimento sobre o absoluto. Nenhuma ação é capaz de te livrar da sensação de limitação, já que uma ação é limitada em si mesma. Portanto, o prāṇāyāma, como uma ação, também é limitado. Apenas te prepara para ter uma mente mais contemplativa.