sexta-feira, 22 de julho de 2011

Visões da prática



Há um tempo ando pensando na nossa relação com a prática de ásanas dentro do yoga. Mal ou bem, somos uma geração que modificou bastante esta prática e ainda estamos para ver os resultados destas experiências.

Atenção: isso é apenas uma observação e não uma crítica direta aos praticantes e seus respectivos gostos pela prática. Cada um sabe muito bem o que faz com o seu próprio corpo.

Quando praticamos partimos de um princípio chamado de bom senso e responsabilidade sobre as nossas ações.

Os experimentadores

A prática tornou-se popular, atingindo academias de ginástica, criando grandes centros de yoga e também numerosas turmas.

Ao mesmo tempo, também surgiram diferentes hibridos, cada um sugerindo certo tipo de visão sobre o corpo.

Temos duas grandes vertentes, hoje, dentro do universo do yoga. O Iyengar Yoga e o Astanga Vinyasa. Estes métodos foram desenvolvidos por seus respectivos “mestres” Iyengar e Pathabi Jois.

Um deles se dedica mais ao alinhamento perfeitamente anatômico do ásana e o outro a prática fluida em determinadas séries de movimentos.

O que estou propondo aqui como observação é que somos novatos, somos os experimentadores de tudo isso. Somos uma geração que está entre os 25 e 45 anos de idade em sua maioria.

Assim como os remédios e mesmo alguns alimentos precisam de certo tempo de experimentação para a comprovação de efeitos benéficos ou não a prática de yoga também passa por isso.

Ainda é muito cedo para vermos quais serão os efeitos sobre nós. Ainda dispomos de muita energia e saúde para praticarmos. Mas é bom atentarmos para alguns sinais do corpo.

A parte mais experiente desta turma, aqueles que já têm mais tempo de prática, quando sinceros, já começaram a declarar os efeitos nocivos destas práticas ao longo do tempo.

E mesmo alguns mais novos, no grupo no qual me incluo, com certeza já passaram por algum tipo de lesão.

O movimento repetitivo do vinyasa, por exemplo, pode causar ao longo dos anos, uma LER (lesão por esforço repetitivo). Que atire a primeira pedra aquele que nunca sentiu um desconforto no ombro ao longo dos milhares de chaturangas que realizamos.

As permanências prolongadas e repetitivas, também, de uma prática de Iyengar podem gerar muito desconforto àqueles que não têm suficiente “proteção” muscular para seus tendões, ligamentos e articulações. E eu já vi muita gente reclamar disso e continuar praticando.

A mentalidade da ginástica dentro da prática

Ao retornar de uma viagem à Índia, me deparei agora, com a capa de uma revista que ilustra um tópico que diz: “Série de flexibilidade para a coluna”.

Acho que em primeiro lugar, a coluna não é flexível. Um osso não se alonga, não é como uma fibra muscular. O que pode ser trabalhado são as cadeias musculares que estão no entorno da coluna. Permitindo que ela tenha mais mobilidade e não flexibilidade.

Outro ponto importante é o uso desta palavra: “série”.

Isso me lembra muito a linguagem daqueles que praticam musculação. Um dia tem a série de peito, no outro, costas, ombros, pernas. É um treino dividido por seções para um melhor desempenho.

Mas yoga não é desempenho ou ganho de massa muscular ou flexibilidade.

Não imagino os antigos yogis fazendo as suas práticas visando um dia trabalhar um grupamento muscular, depois o outro. Não imagino estes yogis admirando narcisivamente os seus corpos.

Acredito que estes yogis buscavam uma prática que trouxesse bem estar e equilíbrio para objetivos como uma melhor saúde e ainda a preparação de práticas mais sutis como a meditação.

Não se encontra em nenhum manual de Hatha Yoga “clássico” como o Hatha Yoga Pradipika, Gheranda Samhita ou Shiva Samhita, uma prática exclusivamente voltada para um certo tipo de movimento, ou grupamento muscular.

Não encontraremos séries de flexão, ou de extensão...

Encontraremos sim, práticas que equilibram ásanas, bandhas, mudras, pranayama, meditação e kriyas.

O Yoga vira esporte

Então, com esta mentalidade o Yoga acaba se tornando uma prática esportiva. E quando se leva um esporte muito a sério, vemos que ele não se torna muito saudável.

Vemos diversos exemplos de como os atletas profissionais estão sujeitos às lesões.

E os professores profissionais ficam também sujeitos a elas. Conheço um grande número que já se machucou ou até hoje levam suas feridas e, ou então estão num processo de fisioterapia constante e recuperação.

Foram estes que abriram os caminhos e estão pagando o preço por terem se jogado como cobaias aos primeiros experimentos.

Devíamos abrir os olhos e aproveitar destes exemplos para não chegarmos aos 60 anos de idade todos tortos ou cheios de hérnias.

A conquista de cada postura

Conquistar uma postura devia ser algo bem pensado. Conquistar não significa sofrer, mas estar muito confortável.

Vejo o quanto as pessoas se matam para fazer um simples padmásana. Simples não, porque se eu contar, na minha vida, devo ter feito esta postura no máximo 10 vezes.

Entendi que minhas articulações das coxas não têm suficiente rotação e que sobrecarregam meus joelhos e tornozelos.

Mesmo na Índia, tendo passado 4 longas temporadas de estudo nas quais sentávamos todos no chão, todos os dias, nunca vi um indiano, ficar sentado em padmásana.

Então se matar para que?

Seja honesto consigo mesmo e assuma as limitações que você possa ter. Isso não é nenhuma vergonha.

Isso fará com que você preserve por mais tempo a sua saúde e possa praticar com mais atitude. Afinal, yoga é atitude e não simplesmente ação.

Preserve seus músculos, ossos, articulações, tendões...tudo! Pois quem os deu à você, com certeza não poderá dar outro!

quarta-feira, 6 de julho de 2011

O que é Mauna?


Muitos pensam que mauna é apenas ficar de boca fechada. Mas esquecemos que os outros sentidos permanecem se comunicando com o mundo e a mente não se silencia.
Para quem assistiu o filme "Comer, rezar e amar; esta passagem me lembra aquele patético exemplo de mauna, dado quando a protagonista se depara com uma das habitantes do ashram.
Nesta passagem do Mahabharata, o sábio Sanatsujata nos explica de forma breve o verdadeiro significado desta ascese.

Dhritarashtra disse: “Qual o objetivo da ascese? Mauna? Eu ouvi que há dois tipos de mauna: continência da fala e meditação. Qual é superior? Poderia uma pessoa atingir este estado de quietude a se tornar livre através de mauna? Como deve ser praticado?”

Sanatsujata disse: “O objetivo de mauna é reconhecer aquilo que está além do alcance de palavras e da mente. O verdadeiro mauna consiste não somente na continência da fala, mas na continência absoluta de todos os sentidos e da mente. O aspecto, forma e natureza de mauna deve ser necessariamente a dissolução daquilo que é objetivo e subjetivo (dualidade) e o foco em Brahman apenas. Quando este estado é “alcançado”, Brahman é “alcançado”. Brahman é representado pelo símbolo védico Om, que representa o denso, o sutil e o causal. Mauna é alcançado pela gradativa dissolução do denso no sutil, do sutil no causal e do causal em Brahman.

Mahabharata - Udyoga Parva